Causou estranheza a explicação que o coordenador da Defesa Civil de Maceió, Abelardo Nobre, teria dado a técnicos e demais participantes da inspeção judicial realizada nesta terça-feira,22, para justificar as rachaduras nas paredes e afundamento dos imóveis no Bom Parto, área de monitoramento em função dos efeitos da mineração da Braskem no local.
Segundo informações de pessoas que acompanharam o trabalho, Abelardo Nobre teria dito que os danos nos imóveis seriam fruto da presença de “argila expansiva no subsolo”, expressão nunca antes utilizada nos estudos sobre os fenômenos que acometeram bairros destruídos pela atividade mineradora da empresa.
Argilas expansivas são características de solos argilosos que sofrem grandes alterações de volume (inchaço e encolhimento) em resposta a variações no teor de água. Essas mudanças podem causar problemas em construções, como rachaduras em casas, devido à expansão e retração do solo.
O professor e engenheiro Abel Galindo, um dos maiores especialistas em solo no Brasil, garante que não existe no subsolo do Bom Perto e de bairro “nenhum” de Maceió, a “tal argila expansiva” que o coordenador teria citado como causadora das rachaduras nas residências do bairro.
“Gente, faço investigações do solo de Maceió, de todos os bairros, para estudos de suporte carga, a quase 50 anos. Tenho, aproximadamente, 20 mil furos para investigações do tipo de solo que temos no subsolo de todas as áreas de Maceió. Posso garantir que não existe no subsolo do Bom Parto e de bairro nenhum, a tal argila expansiva que o senhor Abelardo atribuiu como causadora das rachaduras nos imóveis”, esclarece Abel Galindo.
Segundo o engenheiro, o motivo das rachaduras nas casas do Bom Perto é o mesmo dos demais bairros destruídos, como Pinheiro, Bebedouro e Mutange: a mineração da Braskem.
Abel Galindo atribui os danos nos imóveis à mina de número 34, a mais próxima ao Bom Parto. Segundo ele, provavelmente a mina está subindo em direção à superfície. “Em 2020, empresas francesa, italiana e holandesa, contratadas pela Braskem, por exigência da Agência Nacional de Mineração, afirmaram que a mina 34 é uma das que podem subir até a superfície, a exemplo da mina 18. E a medida que uma mina sobe, ela provoca deformações na superfície e consequentemente as rachaduras nos imóveis”, informou o engenheiro.
O Extra entrou em contato por WhatsApp com o coordenador da Defesa Civil de Maceió, mas até o momento da publicação dessa matéria não obteve resposta.
A vistoria realizada terça-feira foi solicitada para fornecer subsídios técnicos ao juiz responsável por decidir sobre pedidos da Defensoria Pública da União, entre eles a concessão de realocação facultativa aos moradores do Bom Parto. Segundo a Defesa Civil de Maceió, não há risco iminente de colapso estrutural ou afundamento súbito do solo na área 01, o que afasta a necessidade de remoção.
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